Link para o artigo: Video Game Players Avoid Gay Characters

Atualmente, discute-se bastante sobre a representatividade de personagens LGBTQIA+ dentro de jogos. O artigo “Video Game Players Avoid Gay Characters”, escrito por Cornel Nesseler, traz esta pauta citando o preconceito que muitos jogadores têm em relação a personagens homossexuais dentro de jogos. Esta resenha do artigo abordará os diversos pontos que Cornel faz em seu artigo, que justificam a alta rejeição de personagens fora do espectro da heteronormatividade.

No artigo selecionado, Cornel explica que, quando selecionamos um personagem dentro de um jogo, avaliamos suas forças, suas fraquezas e até sua aparência. Os jogadores também fazem escolhas baseados em atributos que não são necessariamente aparentes dentro do jogo e não influenciam de nenhuma forma a experiência dentro dele, sendo um dos principais exemplos a sexualidade ou o gênero do personagem. Em sua pesquisa, Cornel encontrou que outros jogadores podem tratar personagens LGBTQIA+ de forma diferente dentro do jogo. Tal fato pode parecer desinteressante, mas para as grandes empresas de jogos, esse conhecimento é de alta importância, pois sabe-se de várias empresas que apoiam causas sociais por meio de publicidade, campanhas de marketing e venda de produtos. No entanto, a retaliação poderia ocasionar o afastamento de tais empresas das diversas causas sociais de grupos marginalizados e desencorajar jogadores LGBTQIA+ de jogar tais jogos.

Um dos jogos que são referência dentro do ramo de abrangência e representatividade da camada social marginalizada é o jogo “Overwatch”, criado pela empresa “Blizzard”. Cornel utiliza o jogo como laboratório de suas questões. Dentro de Overwatch, jogadores podem escolher entre 32 avatares que possuem diferentes aparências e habilidades. Um ponto importante é que as histórias por trás destes personagens são atualizadas constantemente. As histórias não influenciam de maneira alguma dentro do jogo, sendo apenas um conteúdo adicional para ajudar na imersão e experiência do jogador, mas mesmo assim, tais histórias são tão importantes para a comunidade do jogo que acabam influenciando o mesmo em diversas outras maneiras. Em maio de 2019, um escritor de Overwatch atualizou a história de um de seus personagens, “Soldier 76”, ele diz que o personagem tinha um relacionamento romântico com outro homem que se identificava como homossexual. Dentro do mundo real, essa informação não tem muito impacto, mas no mundo dos videogames, foi revolucionário em vários aspectos. O anúncio do escritor resultou em centenas de respostas nas redes sociais, muitos apoiaram a decisão do escritor, mas alguns jogadores ficaram desconfortáveis, acusando a empresa do jogo de gerar dinheiro por meio de “decisões politicamente corretas”, ameaçando até parar de jogar Overwatch.

Depois do anúncio do “Soldier: 76” como um personagem abertamente gay, houve uma queda enorme na seleção do mesmo dentro do jogo, mesmo ele sendo um dos personagens recentemente lançados. Interessantemente, ao invés de escolher o “Soldier: 76”, vários jogadores começaram a escolher a “Tracer”, outra personagem LGBTQIA+, sendo uma mulher lésbica, a notícia de sua sexualidade é datada desde do início do jogo. Para entender o que estava acontecendo, Cornel criou questionários online para perguntar aos jogadores o que eles pensavam sobre o anúncio e como ele influenciou na experiência do jogo. Centenas responderam, sendo a maioria homens norte-americanos. Eles reportaram que a mudança de sexualidade repentina do personagem não afetou a experiência de jogo e uma grande minoria, no entanto, se sentiu desconfortável e outros jogadores os discriminava quando jogavam com o “Soldier:76” depois do anúncio, se cansando de xingamentos homofóbicos a constante agressão verbal, justificando a mudança de personagem.

Contudo, muitos jogadores mencionaram que a comunidade de jogadores faz uma distinção muito importante entre os dois personagens LGBTQIA +. Enquanto “Soldier: 76” é um homem, “Tracer” é uma mulher. Outros jogadores responderam nas pesquisas que mulheres lésbicas são mais interessantes e atraentes, mas os mesmos jogadores pronunciam desgosto contra homens gays. A detecção de discriminação é importante e clareia muitas pautas do problema. O próximo passo seria encontrar uma maneira de diminuir a discriminação dentro de comunidades de jogos. Dentro do ramo de e-sports, Cornel diz que apenas trabalhando junto com as pessoas dentro da indústria de jogos, será possível uma melhora na equidade e inclusão da comunidade LGBTQIA+.

Algumas pessoas gostam de pensar que jogos oferecem uma versão idealizada da realidade e ensinam valores que aparentemente estão em falta no mundo real, como lutar por uma causa em comum ou trabalhar juntos em um time. Mas, com a pesquisa de Cornel, pode-se concluir que o mundo dos jogos possui os mesmos preconceitos e discriminações que ocorrem no mundo real, sendo um espaço mais convidativo para uns do que para outros. A comunidade de jogos precisa agregar sua diversidade e acabar com os seus preconceitos. Jogadores devem superar suas ideias de discriminação e aceitar todos os personagens e jogadores que os selecionam.

A pesquisa de Cornel é um pilar muito importante para a discussão de pautas inclusivas dentro da comunidade dos video games. De 2019 até o período atual, inúmeros jogos aumentaram a diversidade de personagens, um exemplo seria o jogo “Apex Legends” que traz consigo personagens gays, lésbicas, transgêneros e não-binários. Outros jogos como “The Last of Us 2” consegue abordar o romance de duas personagens mulheres e o jogo “Guilty Gear” vem, por meio de suas diversas séries, atualizando os modelos de personagens, experimentando com diferentes tipos de corpos, gêneros e sexualidades. Por fim, sabe-se que a indústria de jogos é majoritariamente dominada pela cultura heteronormativa binária, mas se mais desenvolvedores LGBTQIA+ participassem do desenvolvimento de jogos das grandes empresas, teria-se mais liberdade para criar personagens de diferentes grupos marginalizados, pluralizando a comunidade de jogos e abrindo espaço para que novas ideias surjam.