Por: Andrêssa Finzi
Apresentação:

O Prof. Dr. João Nunes de Souza possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais, bacharelado e mestrado em Matemática pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor titular da Universidade Federal de Uberlândia. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em ensino de Lógica, Banco de Dados e Criptografia, atuando principalmente nos seguintes temas: recuperação de informação, segurança e protocolos criptográficos, ensino de Lógica para alunos de graduação e do ensino médio.
printf: Em razão dos recentes ataques praticados contra sites do governo muitos têm afirmado que esses sites eram muito vulneráveis? Qual a sua opinião?
João: Você nunca vai ter uma resposta definitiva para a segurança de qualquer site. Até sites do ministério da defesa americano já foram invadidos. Volto à questão, se o dado for importante, você gasta para mantê-lo. Entretanto, sempre há alguma vulnerabilidade e ele poderá ser invadido. Isso ocorre porque junto com a evolução da tecnologia há a evolução dos ataques. Você pode melhorar a segurança dos dados, mas em contrapartida, há também a melhoria dos ataques. No caso de alguns sites do governo, como por exemplo, o site da receita federal, ele é extremamente inseguro, sendo muito vulnerável. É fácil alguém se passar por outra pessoa e fazer uma declaração de imposto de renda ou de imposto territorial rural. E isso pode ser prejudicial, do ponto de vista fiscal, para aquele cuja declaração foi feita por outro. Em geral, os problemas de segurança ocorrem porque as ferramentas de segurança somente são desenvolvidas bem depois das implementações dos sistemas. Além disso, lidar com questões de segurança é algo complexo para muitas pessoas.
printf: Como funcionam as urnas digitais no sistema eleitoral brasileiro?
João: Uma urna eletrônica não é um sistema de segurança baseado em princípios de criptografia. Nesse caso, não há segurança criptográfica. Você vota e o seu voto é gravado digitalmente. No final das votações, o chefe da sessão envia a urna eletrônica para o local de apuração dos votos. Nesse local, os votos, gravados em um CD, ou fita, são retirados da urna. Em sua essência, a urna eletrônica é análoga a uma urna comum. O que ela proporciona é substituir o voto no papel por uma gravação digital. Assim, ao invés de escrever o voto no papel e colocá-lo na urna, o eleitor vota na urna eletrônica e grava seu voto em um CD. Continua havendo problemas de segurança. Entretanto, eles são reduzidos pois votos gravados digitalmente não são alterados tão facilmente quanto os votos em papel. Além disso, a contagem dos votos é mais segura. Com a urna digital, a totalização dos votos é eletrônica e não há intervenção manual.
printf: Qual o motivo em sua opinião que torna a legislação e punição dos crimes virtuais no Brasil ineficientes?
João: A evolução dos crimes virtuais é muito rápida e o processo de elaboração de leis não o acompanha. Em geral, o crime anda mais rápido que a elaboração de leis. Há países onde a elaboração de leis é mais ágil e, nesse caso, o sistema de leis se adapta e consegue resolver problemas relacionados a crimes virtuais. Infelizmente, isso não ocorre no Brasil, onde a adaptação do sistema jurídico a novas realidades é lenta.